A parceria academia-empresa visa a descoberta de novos medicamentos, a partir de moléculas bioativas descobertas no LASSBio/UFRJ, sede do INCT-INOFAR
Por Lúcia Beatriz Torres/ Serendipity Comunicação
O Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Fármacos e Medicamentos (INCT-INOFAR), cuja sede é o Laboratório de Avaliação e Síntese de Substâncias Bioativas (LASSBio/ ICB-UFRJ), anunciou, nesta quarta-feira (22 de maio de 2019), parceria inédita com Eurofarma. O acordo prevê acesso da empresa farmacêutica ao acervo de 2 mil moléculas da quimioteca do LASSBio, para o desenvolvimento de pesquisas em conjunto, que visam a descoberta de medicamentos inovadores. Dor, leishmaniose, inflamação e depressão são os primeiros alvos escolhidos para essa parceria.
O Centro de Ciências da Saúde da UFRJ sediou a assinatura do acordo de cooperação científica com a Eurofarma.
Além do intercâmbio científico para a descoberta de novos medicamentos, o Termo de Cooperação firmado entre o LASSBio e a Eurofarma abrange a capacitação de recursos humanos, absorção e transferência de tecnologia. Projetos científicos nas áreas de síntese orgânica e farmacologia também estão previstos no convênio, que pode contar ainda com a colaboração de pesquisadores de outras Instituições integrantes da rede do INCT-INOFAR. A Faculdade de Medicina da USP-Ribeirão, por exemplo, será uma das parcerias para os estudos de farmacologia.
“Não é possível fazer inovação farmacêutica sem uma aliança sólida com a Academia”
– Martha Penna, vice presidente de Inovação da Eurofarma.
A parceria Academia-Empresa foi assinada em cerimônia aberta ao público, no Centro de Ciências da Saúde (CCS/UFRJ), por representantes do INCT-INOFAR, LASSBio e Eurofarma. Estiveram presentes no evento a vice-presidente de Inovação da Eurofarma, Martha Penna, o Decano do CCS, Professor Luiz Eurico Nasciutti, o Diretor do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB/UFRJ), Professor José Garcia Abreu Junior, entre outras autoridades.
Da bancada do laboratório à prateleira das farmácias
“Temos o início de uma parceria única no Brasil, onde toda a cadeia de inovação farmacêutica se beneficiará. Hoje, as universidades têm ideias boas, desenvolvem projetos de pesquisa, formam pessoas qualificadas e criam conhecimento, mas tudo isso resulta em uma renomada publicação científica”, chama a atenção o Professor Eliezer Barreiro, coordenador científico do INCT-INOFAR e do LASSBio.
Martha Penna (Eurofarma) e Prof. Eliezer Barreiro (INCT-INOFAR e LASSBio/UFRJ)
assinam parceria Academia-Empresa
Segundo Barreiro, neste modelo de parceria público-privada, baseada na “tríplice hélice da inovação" governo-academia-empresa, a indústria farmacêutica poderá desenvolver novos medicamentos, a partir do know-how acadêmico, que beneficiará muitos pacientes. Já as universidades envolvidas receberão recursos, advindos de todo o trabalho desenvolvido, que fomentará ainda mais o conhecimento e novas descobertas.
“Pelo fato do LASSBio ser sede do INCT-INOFAR - rede de pesquisa financiada pela FAPERJ, CNPq e Ministério da Saúde, que reúne competências científicas da área de fármacos e medicamentos, presentes em diferentes Universidades e Centros de Pesquisas do País - o acordo poderá envolver novas parcerias da Empresa em outros projetos de interesse recíproco, vinculados à rede do INCT-INOFAR ", observa o Professor Eliezer.
Uma saída para amenizar a crise de investimentos públicos em pesquisa
Em meio à crise de investimentos nas Universidades Federais e corte de bolsas de pesquisa, o acordo de cooperação entre o INCT-INOFAR/LASSBio e a Eurofarma traz uma mensagem de otimismo. A parceria com a empresa possibilitará que pesquisadores identificados pelo INCT-INOFAR recebam bolsas de pós-doc (no valor da bolsa FAPESP, a mais alta no País), com seguro-saúde, e no futuro, permitirá que a UFRJ receba royalties pelos medicamentos originados, a partir deste convênio.
Outro ponto positivo da parceria, destacada por Barreiro, é que, ao final do período da bolsa, os pesquisadores envolvidos nos projetos terão a possibilidade de serem absorvidos pela empresa, conquistando um posto de trabalho fora da universidade. Desta forma, o conhecimento produzido na universidade em convênio com a empresa poderá contribuir com a inserção profissional de doutores, no ambiente de pesquisa do setor farmacêutico nacional.
“Nosso planejamento estratégico prevê que até 2030, 15% de todas as nossas vendas sejam revertidas para pesquisa & desenvolvimento. Em 2018, investimos R$ 250 milhões na pesquisa de fármacos e medicamentos e outros R$ 155 milhões estão sendo investidos no Centro Eurofarma de Inovação”, afirma Martha Penna, vice-presidente de Inovação da Eurofarma.
Eurofarma irá testar compostos da quimioteca do LASSBio
Ao longo de 25 anos de pesquisas, o LASSBio construiu uma vasta quimioteca. Hoje, sua biblioteca de moléculas possui mais de 2 mil compostos, com propriedades bioativas comprovadas, sendo muitos avaliados em organismos vivos (in vivo). A parceria que se inicia irá possibilitar que a empresa teste, em diferentes alvos terapêuticos, as moléculas desta coleção. Em um primeiro momento, o screening molecular será virtual, a partir de modelos3D, e a empresa selecionará os “hits”, compostos com maior afinidade com o alvo, para a próxima etapa de pesquisa.
No LASSBio, através de modelagem computacional, os hits de interesse serão otimizados, para melhorar o “encaixe” com o alvo terapêutico, eleito para tratar determinada doença. Amostras físicas dos compostos selecionados poderão ser sintetizadas nas bancadas do LASSBio e enviadas para testes mais avançados pela Eurofarma.
Representantes da Eurofarma, UFRJ, Faperj e INCT-INOFAR
Na foto, Prof. Eliezer Barreiro (INCT-INOFAR e LASSBio), Prof. José Garcia Abreu (Diretor ICB/UFRJ),
Martha Penna (Eurofarma), Eliete Bouskela (Faperj),
Fernando Cunha (INCT-INOFAR/ USP-RP) e Luiz Eurico Nasciuti (Decano CCS/UFRJ)
O coordenador científico do laboratório afirma que o processo de descoberta de fármacos é longo e delicado. Para o especialista em Química Medicinal, nem todas as moléculas testadas no computador funcionam bem na vida real. Ainda há os estudos clínicos, com seres humanos, que são muito custosos para a academia arcar. Por isso é tão importante a parceria com a empresa farmacêutica. Segundo Eliezer, em nenhum lugar do mundo a universidade conseguiu, sozinha, colocar um medicamento no mercado.
“O que estamos celebrando, hoje, com a parceria assinada coma Eurofarma, são ações translacionais em saúde, que permitem que o conhecimento da bancada do laboratório da universidade chegue até a população”, ressalta. A expectativa do Professor Eliezer Barreiro e sua equipe é que o convênio com a Eurofarma, empresa com capital 100% nacional, possa originar o primeiro medicamento brasileiro, fruto de inovação radical: "Um produto farmacêutico inovador, com maior valor agregado que os medicamentos genéricos (inovação incremental), capaz de tratar nossa população e ainda contribuir para melhorar o saldo da balança comercial do Brasil, ao ser exportado para outros países”.