Chegou a hora da sabatina. Nos 2 e 3 de julho, os  Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT’s) se reuniram em Brasília, no Distrito Federal,  para o II Seminário de Acompanhamento e Avaliação dos INCT’s.  Depois de quase 5 anos de trabalho, cada um dos 122 INCT’S aprovados no edital no 15/2008, mais os 4 Institutos criados a posteriori, através da chamada INCT-MAR, tiveram que mostrar o resultado de suas respectivas ações na pesquisa, formação de recursos humanos, transferência de tecnologia e divulgação científica & educação. Coordernado pelo Prof. Eliezer J. Barreiro (UFRJ/LASSBio), o  INCT de Fármacos e Medicamentos (INCT-INOFAR) surpreendeu os avaliadores e o público presente no evento pela sua forte atuação, em cada uma das quatro áreas avaliadas.

Durante a abertura oficial do evento, na última terça-feira (2/07), o ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Marco Antonio Raupp, anunciou a continuidade do financiamento do Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT’s) Até o final do segundo semestre será lançado um novo edital. Segundo o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Glaucius Oliva, os INCT’s que o obtiverem êxito nesta avaliação e quiserem participar do novo edital certamente levarão vantagem sobre outros, apesar de ser um edital de concorrência aberta

Foto Lúcia Beatriz Torres

INCT-INOFAR no II Seminário de Acompanhamento e Avaliação dos INCT’s: Eliezer Barreiro (coordenador), Lidia Lima (superintendência científica) e Ana Cristina da Mata (secretaria extensão)

O CNPq promoveu o II Seminário de Acompanhamento e Avaliação e dos INCT’s em parceria com o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) do MCTI. A avaliação foi feita por uma equipe de excelência formada por consultores nacionais e internacionais. Para avaliar os 126 INCT’s foram formados 11 grupos temáticos, que abrangeram 8 diferentes áreas de  pesquisa de fronteira para a ciência e tecnologia, em temas estratégicos para o desenvolvimento sustentável do País. O evento contou ainda com uma área de estandes (salão de exposição), onde os representantes de cada INCT puderam expor seus materiais de divulgação e interagir com pesquisadores de outros Institutos.

Avanço em políticas públicas de saúde

A área da saúde representa, hoje,  cerca de  35% da produção científica brasileira e isso está refletido nos INCTs, onde um terço dos Institutos são vinculados à área da saúde. Para o secretário da Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde (MS), Carlos Gadelha, é fundamental colocar o conhecimento desenvolvido no âmbito dos INCT’s a serviço do sistema de saúde, a fim de que se cumpra o que está escrito na nossa constituição. “A ciência pode colaborar para a sustentabilidade da incorporação de novas tecnologias ao sistema, que prevê o acesso universal, integral e equânime – observou o secretario.

Em sua fala na abertura do evento, Gadelha sugeriu uma outra variável para avaliação dos INCT’s, a contribuição para as grandes políticas nacionais na área de saúde: “A comunidade científica deve ter o compromisso de colaborar para a construção de um sistema de saúde mais sólido e sustentável no País”. Segundo o secretário, hoje a área de medicamentos representa mais de 10% do orçamento do Ministério da Saúde.

Foto Lúcia Beatriz Torres

Cerimônia de abertura do II Seminário de Acompanhamento e Avaliação dos INCT’s

Invertendo o “Caminho das Índias”

Ciente de que o Brasil possui uma indústria farmacêutica deficiente e é extremamente dependente da importação de princípios ativos, medicamentos e adjuvantes farmacotécnicos, o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Fármacos e Medicamentos (INCT-INOFAR) investe esforços para inverter o “Caminho das Índias” de fármacos no País. Com a missão de atuar na descoberta de novos fármacos e medicamentos e na busca de rotas de síntese inéditas para genéricos de grande impacto na balança comercial brasileira, o INCT-INOFAR colabora para a construção de um sistema de saúde mais eficaz no País.

Para chamar a atenção para a necessidade do desenvolvimento de políticas públicas que incentivem a produção de fármacos que falem “português”, pesquisadores do INCT-INOFAR constantemente vão a público discutir a questão, fazendo críticas e propondo soluções. Através da publicação de editoriais, participação em fóruns de debates, divulgação de suas descobertas na imprensa, entre outras ações, o Instituto ressalta a ideia de que, sem uma indústria farmoquímica e farmacêutica nacional forte – que seja capaz de tecer parcerias para o escalonamento primário das moléculas descobertas no âmbito acadêmico – dificilmente o Brasil chegará a desenvolver um medicamento “verde-amarelo” e continuará dependente das importações.

Foto Lúcia Beatriz Torres

INCT-INOFAR na berlina: Prof. Eliezer  Barreiro apresenta o Instituto para três avaliadores

Segundo o discurso do presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Jorge Guimarães, na mesa de abertura do II Seminário de Acompanhamento e Avaliação dos INCT’s, uma das maiores contribuições dos INCT’s foi o surgimento de novos cursos de pós-graduação focados nas redes. Tendo em vista que não há como viabilizar o autêntico fármaco “verde-amarelo”, compatível com as principais demandas de saúde de nossa população, sem bons profissionais de Química Medicinal, pesquisadores do INCT-INOFAR colaboraram para criar, no Instituto de Ciências Biomédicas na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), um curso inédito de pós-graduação na América Latina, que mescla a Farmacologia com a Química Medicinal.



INCT-INOFAR inspirando outros INCT’s


Dos 126 INCT’s, 38 têm a saúde como foco. Para facilitar a logística da avaliação, os INCT’s de Saúde foram divididos em 3  grupos. Cada Instituto teve o desafio de, em trinta minutos, apresentar o resultado de suas ações em quatro quesitos de igual importância na avaliação: pesquisa, formação de recursos humanos, transferência de tecnologia e divulgação científica & educação. Para o coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Fármacos e Medicamentos (INCT-INOFAR), que é especialista em síntese de fármacos, esta foi a “síntese” mais difícil de fazer. “Em meia hora apresentar resultados de 5 anos de trabalho, fruto do investimento público de quase 6 milhões de reais, realmente é muita responsabilidade” – observou Eliezer J. Barreiro.

O INCT-INOFAR integrou o grupo de Saúde 3 e foi avaliado por Dr. Osvaldo Yantorno da Universidad Nacional de La Plata, pelo Dr. Walter Colli da Universidade de São Paulo (USP) e pela Dra. Paola Minoprio do Insitut Pasteur de Paris. Impressionada com a qualidade gráfica do relatório de atividades anual (Annual Activities Report)  que recebeu previamente para avaliar, Paola Minoprio fez questão de visitar o estande do INCT-INOFAR. Na ocasião, a avaliadora do Institut Pauster de Paris se surpreendeu com a diversidade de ações voltadas a divulgação científica e educação em saúde e rendeu elogios ao Instituto.

“É realmente exemplar o trabalho que o INCT-INOFAR tem desenvolvido ao longo desses anos. Além da pesquisa científica de altíssimo nível, o Instituto ainda desenvolve atividades nas escolas, despertando o olhar infantil para o fazer  ciência” – observou Paola Minoprio, que na visita ao estande  levar consigo o kit completo com o material de divulgação do INCT-INOFAR. Com a bandeira do Brasil estilizada na capa para lembrar a importância da luta pelo medicamento “verde-amarelo”, o kit INCT-INOFAR continha entre outros materiais, o conteúdo digital dos quatro relatórios anuais produzidos pelo Instituto, de 2009 a 2012, e um livreto com o portfólio resumido das ações do INCT-INOFAR no âmbito da popularização da Ciência.

Foto Lúcia Beatriz Torres

Ana Carla dos Santos (secretaria executiva) e Ana Cristina da Mata (secretaria de extensão) no estande do INCT-INOFAR, na feira do  II Seminário de Avaliação e Acompanhamento dos INCT’s

Questionado pela avaliadora e por outros representantes de INCT’s sobre qual o segredo para conseguir desenvolver tantos projetos conjuntos, seja na área da pesquisa científica ou na divulgação, o coordenador do INCT-INOFAR explicou que isso só é possível graças ao trabalho de equipe. “Ter profissionais qualificados, em suas respectivas áreas, para executar cada tipo de ação, é fundamental. Dando suporte ao trabalho multidisciplinar dos cientistas do INCT-INOFAR, estão administradores, educadores e jornalistas.” - observou Barreiro, que ficou feliz ao saber que coordenadores de outros INCT’s buscam inspiração no INCT-INOFAR, para desenvolver um trabalho a cada dia melhor.

Equipe INCT-INOFAR no II Seminário de Avaliação e Acompanhamento dos INCT’s:

- Prof. Eliezer J. Barreiro, coordendor
- Prof. Fernando Cunha, vice-coordenador
- Profa Lídia Moreira Lima, superintendente científica
- Ana Carla dos Santos, secretaria executiva
- Ana Cristina da Mata Silva, pedagoga
- Lúcia Beatriz Torres, jornalista