Por Lucia Beatriz Torres
Escolhida para sediar o XIV Encontro Regional da SBQ-Rio, a Universidade Federal Fluminense (UFF) foi palco para homenagear personalidades que têm dado contribuição ímpar ao desenvolvimento da Química brasileira. As medalhas Walter B. Mors e Revista Virtual de Química (RVq) foram entregues na última segunda-feira (02/12), durante a cerimônia de abertura do evento regional, que segue até o dia 05 de dezembro discutindo os desafios para o ensino e pesquisa em Química no Estado do Rio de Janeiro.
Ricardo Bicca de Alencastro, professor Titular e Emérito da UFRJ , foi laureado com a Medalha Walter Baptist Mors. O Prof. Bicca foi pioneiro ao pavimentar a construção do conhecimento da química computacional, principalmente a modelagem molecular de fármacos, na UFRJ. Essa área do conhecimento teve recentemente a sua importânica reconhecida para humanidade pelo
Premio Nobel de Química 2013 concedido ao trio de pesquisadores dos Martin Karplus, Michael Levitt e Arieh Warshel.
A Revista Virtual de Química (
RVq) foi criada pela SBQ-Rio, em 2009. É uma publicação eletrônica sem fins lucrativos que tem como marco a divulgação de trabalhos originais da Química realizados no continente latino-americano. Criada em 2011, a Medalha RVq tem como meta render tributo aos pesquisadores que apoiam e contribuem para o crescimento e fortalecimento da Química em nosso País.
Nesta edição, as homenagens da Revista Virtual de Química (RVq) foram para o reitor da UFF, Prof.
Roberto de Souza Salles (UFF) e para o professor do Instituto de Química da Unicamp,
Oswaldo Luiz Alves. Roberto Salles não é químico mas, em sua gestão na UFF, tem colaborado duplamente para o divulgação da Química fluminense ao hospedar a revista no ambiente virtual na
Universidade e o evento da Regional Rio da Sociedade Brasileira de Química (SBQ- Rio) no Instituto de Geociências.
Foto: Lúcia Beatriz Torres |
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Mesa de abertura do XIV Encontro Regional da SBQ-Rio na UFF |
Na noite em que a SBQ-Rio prestou homenagens à Química brasileira estiveram presentes o presidente da SBQ, Prof. Vitor Francisco Ferreira e o secretário da SBQ-Rio e editor da RVq, Fernando de Carvalho, além de representantes de diferentes instâncias da UFF como o vice-reitor, Prof. Sidney Luiz de Matos Mello; a vice-diretora do Instituto de Química, Profa. Katia Leal e o Pró-reitor de Pesquisa, Pós-graduação e Inovação, Prof. Antonio Claudio da Nobrega. A administração pública de Niterói foi representada pelo presidente da Fundação Municipal de Educação de Niterói, José Henrique Antunes.
Liderança e espírito empreendedor na Química
A frente da presidência da SBQ em um momento difícil, em que o Brasil vivia uma forte crise no investimento em Ciência, o professor Oswaldo Luiz Alves teve visão de liderança e espírito empreendedor. Foi em sua gestão que surgiu a ideia da criação da editora SBQ. Como legado para a Instituição, deixou registrado em livro todos os seus passos como presidente da SBQ. Agraciado com a medalha RVq por sua contribuição marcante para a Química brasileira, o professor da Unicamp recebeu o “desafio” de proferir a conferência de abertura do evento intitulada “A Química e o Século XXI”.
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Foto: Lúcia Beatriz Torres |
“Foi um desafio grande quando recebi o título, pois já tinha varias ideias, mas estavam todas fragmentadas. Muitas dessas reflexões trouxe de cargos que ocupei, em que tive a oportunidade de viajar o Pais inteirinho discutindo Ciência e Tecnologia. Essa vivência me deu bases bastante seguras para fazer uma reflexão um pouco mais pesada sobre que tipo de Ciência e Tecnologia seria importante para o Brasil no século XXI” – observou o Prof. Oswaldo Luiz Alves. |
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Prof. Oswaldo Luiz Alves e Eliezer J. Barreiro
Entrega da medalha RVq |
Além de ocupar a presidência da SBQ na gestão 1998-2000, Alves também atuou como consultor do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGE), da Agencia Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Segundo o professor, a partir do momento que se tem o entendimento do cenário, é possível perceber qual conhecimento está faltando para investir em processos tecnológicos que sejam capazes de suplantar esses gargalos.
Reflexões sobre a “A Química e o Século XXI”
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Não podemos mais viver sem química, não há como” – ressaltou o Prof. Oswaldo Luiz Alves, na conferência que tentou projetar os desafios dessa área da ciência para o século XXI. Segundo ele, esses conjuntos de desafios irão certamente gerar novas tecnologias, que poderão ser apropriadas pelas matrizes industriais do mundo e que certamente, irão acabar modificando, e muito, a vida do cidadão.
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A ideia de fundo dessa palestra foi mostrar como a Química, de certa forma, chegou até aqui. Qual foi o impacto da Química na sociedade. Sobretudo, a grande mensagem que tentei passar é que o fazer Ciência é um ato coletivo. Alguém pega o conhecimento novo e o transporta para outro contexto, gerando novas tecnologias” – observou o professor da Unicamp, que procurou mostrar também que as ciências estão imbricadas, e que a Química tem uma centralidade nesses processos.
Para o professor Oswaldo, a centralidade da química se dá pois é ela quem gera os novos materiais: “
Você não gera novas tecnologias, fábricas, indústrias se não tiver os novos materiais. Sem os novos materiais você não faz eletrônica, energia, fármacos. O país que não dominar os novos materiais tem pouca chance de se desenvolver e os químicos tem um papel muito importante nesta história.
”Outro aspecto que o professor da Unicamp chamou a atenção em sua conferência sobre a Química e o século XXI foi o contexto da sustentabilidade. “
Hoje, quando você vai fazer um produto, tem que imaginar tudo o vai acontecer com ele até o fim. Há uma responsabilidade sobre toda a cadeia” – destacou. Segundo Oswaldo Luiz Alves, são novos conceitos que a Ciência e a Tecnologia estão trabalhando, e que os cientistas precisam absorver.
Medalha Walter Baptist Mors
O Professor Walter Baptist Mors, falecido em 06 de outubro de 2008, foi um ícone da Química de Produtos Naturais no Brasil e um impulsionador irrefutável da Química Fluminense. A criação da medalha que leva seu nome foi concebida visando reconhecer e condecorar os profissionais que mais contribuiram para o ensino e pesquisa em Química no Estado do Rio de Janeiro.
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Nesta edição, o agraciado com a medalha Walter Mors foi o Professor Titular da UFRJ Ricardo Bicca de Alencastro. Humilde, o mestre que teve a oportunidade de conviver com o Walter Baptist Mors no Instituto de Química, em 1963, quando ainda estava no início de sua graduação, agradeceu a homenagem ressaltando que apenas cumpriu com as suas obrigações. “
Acho um pouco de exagero. Fico parecendo uma peça de museu!” – brincou.
Breve Biografia - Ricardo Bicca de Alencastro
Prof. Ricardo Bicca de Alencastro |
Amante da música, dos livros e da poesia, o carioca Ricardo Bicca interessou-se muito cedo pela Química, quando ainda era aluno do Colégio Militar. Em 1962, ingressou na Escola Nacional de Química da Universidade do Brasil (ENQ) e passou a participar ativamente da política universitária nos conturbados anos 60, tendo sido eleito presidente do Diretório Central de Estudantes (DCE) da Universidade do Brasil, nos anos 1964-1965.
Orientado pelo Prof. Cláudio Costa Neto, Ricardo Bicca desenvolveu sua dissertação de mestrado, entre 1966 a 1969, no primeiro curso formal de Pós-graduação na área de Química no País, na atual UFRJ. Com recursos próprios, em 1970, partiu para a Universidade de Montreal, Canadá, para realizar seu doutorado sob orientação do Prof. Camille Sandorfy. Já com uma bolsa do CNPq, defendeu sua tese de doutorado em 1972. |
Em março de 1969, antes de ir para o exterior, Bicca havia sido contratado pelo IQ-UFRJ como auxiliar de ensino onde iniciou suas atividades docentes na recém inaugurada Cidade Universitária, na Ilha do Fundão. Em seu retorno à UFRJ, ficou 10 anos, de 1973 a 1983, a frente da coordenação da Pós-Graduação de Química Inorgânica, sedo que, de 1976 a 1980, o Prof. Bicca ocupou ainda o cargo de diretor do Instituto de Química.
Em 1981, reorganizou o seu grupo de pesquisas com estudantes de iniciação científica, dedicando-se a duas linhas principais: o desenvolvimento do estudo de propriedades físicas de alcoóis e o desenvolvimento do uso de cálculos numéricos e estatísticos no tratamento de resultados experimentais com auxílio de computadores. Com o crescimento das pesquisas em modelagem molecular ocorrido na década de 1990, a partir de 1992 os trabalhos passaram a ser concentrados na área de modelagem molecular, dando origem ao atual Laboratório de Modelagem Molecular (LabMMol).
Apontado como um dos membros mais atuantes da Sociedade Brasileira de Química (SBQ) desde a sua origem, Bicca foi diretor eleito da Regional Rio e da Divisão de Química Medicinal da SBQ. Em 1999, Bicca tornou-se Professor Titular da UFRJ e, recentemente foi elevado a Professor Emerito da UFRJ. A cerimonia solene do Conselho Universitário que irá conceder a laurea ao Prof. Ricardo Bicca de Alencastro será realizada no dia 12 de dezembro, no Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN/UFRJ), na ilha do Fundão.